sábado, março 14, 2009

Entre os «heróis do mar» e os «heróis da bola»

Na actualidade, os jogadores de futebol são considerados heróis, como o foram antes os navegadores portugueses de Quinhentos. Qual destas constelações de heróis merecerá mais respeito? Poderão eles ser comparados? São estas as duas perguntas que se impõem.
Os heróis do passado conquistaram tudo o que hoje somos, o nosso território, a memória histórica de um império que nos pôs no “comando” do mundo (e que perdemos), uma identidade e um orgulho nacional de termos dado “mundos ao mundo”, contribuindo para pôr em contacto povos, religiões, culturas diversas, de termos legado a nossa língua e a nossa cultura a várias regiões do mundo.
Além da grandeza e do alcance para Portugal e para a Humanidade das conquistas dos heróis dos Descobrimentos, e como bem realçou Camões n’Os Lusíadas, importa lembrar os múltiplos obstáculos e dificuldades que tiveram de enfrentar. De facto, um feito tão extraordinário como a aventura das Descobertas foi levado a cabo em condições inimagináveis nos nossos dias e exigiu dos marinheiros portugueses uma coragem e um espírito de sacrifício incalculável.
Temos de convir que, pese embora o entusiasmo com que vibramos com as conquistas dos nossos craques da bola, nem a dimensão desses feitos tem o mesmo efeito decisivo no destino da nossa nação (e muito menos na evolução da Humanidade), nem o grau de heroísmo necessário para vencer e conquistar o sonho de ir mais longe é o mesmo. No primeiro caso porque, por muito dinheiro e mediatização que envolva o fenómeno futebolístico, não são perceptíveis contribuições significativas para o desenvolvimento do conhecimento, verdadeiro motor de propulsão das sociedades humanas. No segundo caso porque, na verdade, os grandes craques da bola, embora tenham de manter um nível elevado de empenhamento, têm também todas as condições para desenvolver o seu trabalho, são mesmo “apaparicados” e comportam-se como vedetas, exibindo futilmente o luxo dos bens materiais que podem adquirir com os seus ordenados exorbitantes.
Não quer dizer que devamos desprezar o valor simbólico destes novos heróis, sobretudo se eles transmitirem ideais positivos para os mais jovens e se for aproveitado o reconhecimento mundial destes jogadores como “cartão de apresentação” para projectar Portugal lá fora, abrindo caminhos para “heróis” de outras áreas menos mediáticas e contribuindo para a promoção do país nas vertentes económica e cultural.
Reconheçamos, pois, a superior relevância dos feitos dos nossos «heróis do mar», mas vivamos também as alegrias que os nossos «heróis da bola» nos vão dando, e façamos deles o melhor que eles puderem ser - heróis à medida do nosso tempo –, todavia aspirando a uma heroicidade individual e colectiva que vá mais longe que o mundo da bola.
Ana, Brandon, Guilherme e Joel

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