quinta-feira, março 12, 2009

Um mar de desconhecimento...


O «mar anterior a nós» a que se refere Fernando Pessoa no primeiro verso do poema «Horizonte» não seria o mesmo que Camões designa por «mares nunca dantes navegados», ou seja, o mar desconhecido que foi revelado pelos Descobrimentos portugueses? Realmente era muito difícil perceber, principalmente pela óbvia relação intertextual com Os Lusíadas, de que já havíamos falado. Enfim... Deixo um endereço em cima para verem mais imagens desse «mar anterior anós». Deixo abaixo mais um texto que pode esclarecer os que porventura ainda tenham dúvidas.

«Na Idade Média o Atlântico para sul de Marrocos e para ocidente da Europa era visto como um Mar Tenebroso, que a imaginação de cristãos e muçulmanos povoava de monstros e de incertezas sobre o que nele se poderia encontrar. O medo de enfrentar esse mar desconhecido impediu durante muito tempo a sua exploração. Por outro lado o tipo de economia européia da Idade Média não estimulou durante muito tempo tais explorações. As guerras na Europa também não propiciavam o investimento em explorações além-mar.
Nos meios culturais dominantes na Idade Média seguiam-se autoridades antigas que não acreditavam que existissem antípodas e ge­ralmente admitia-se que as elevadas temperaturas equatoriais impediriam a vida de homens ou a realização de navegações a baixas latitudes. Alguns escritores e artistas deram largas à fantasia e descreveram seres fantásticos, que habitariam em zonas incógnitas. Por tal motivo aceitou-se durante muito tempo que haveria seres humanos com uma só perna ou com cabeça de cão ou com cabeça situada no tórax. A crença neste maravilhoso fantástico situado em zonas da Terra distantes derivava dos homens desconhecerem a extensão e a diversidade do gênero humano.
Os europeus da Idade Média desconheciam a América e a maior parte da África e da Ásia, assim como os povos destes continentes des­conheciam a Europa. As várias civilizações da terra viviam fechadas sobre si ou man­tinham muito poucos contatos.
O medo de passar para lá do cabo Bojador, frente às ilhas Canárias, estava arraigado nas mentalidades dos europeus, fato que os impedia de conhecer a forma da África, levando muitas pessoas a aceitar a teoria de Ptolomeu, onde se admitia ser o Oceano Índico um mar fechado.
O desconhecimento da geografia do mundo e as crenças antigas em monstros e seres fabulosos foram ultrapassadas pela expe­riência dos portugueses que venceram os medos medievais e obtiveram o conhecimento da realidade da Terra.»

Revista “Cabral, o Viajante do Rei” - 1ª Edição
www.cabral.art.br

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